Tudo no saber é esboço; a obra acabada é o homem (A.-D. Sertillanges)

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Quem estaria errado se pensasse que a vida passa ou decorre os seus dias através de uma certa ocupação pertinente a cada indivíduo? Alguns a chamam de vocação. Sim, quando observado de um ponto de vista mais sublime e de certa forma metódico. É também o motivo de um desocupado nunca ser bem-quisto na sociedade. Esse último, um ponto de vista mais problemático. Então a vida seria preenchida com a realização de tarefas e trabalhos ininterruptos? Pensando assim, quanto mais obrigações se cumpre, de forma mais eficiente se vive; essa seria a lógica grosseira.

Desse modo somos levados a considerar um desocupado como um infeliz desocupado. Mas em todo caso sempre é possível começar algo novo, refazer ou tomar um velho hábito. Um fazer propositalmente direcionado a fim de ocupar o tempo ocioso e efetivamente viver uma ocupação. Esse processo apesar de incômodo — justamente por causa de nossa indolência, falta de interesse e fraqueza de ânimo — é ele mesmo capaz de curar essa deficiência, tornando o homem mais consistente e ocupado com tarefas capazes de transformar o caráter, por conseguinte, todo o estilo de vida, sua personalidade, suas coisas no geral. Há um ditado popular que não se deve fazer valer aqui e diz: “mente vazia, é a oficina do diabo.”

No meio do amontoado de tarefas e coisas inúteis das quais uma pessoa se cerca e da falta de propósito pessoal, a mente procura firma desvios ou barreiras diante da mudança de hábitos e para nos poupar de quê? Do progresso pessoal, de uma vida plena, constituída de propósito, de realização e satisfação invencíveis? Como seguir então firme praticando numa ocupação que edifique a nossa vida?

Além de uma preparação e organização geral da vida, um pouco de disciplina na ocupação é o essencial, as vezes executando tarefas simples do dia a dia, mas que de forma consistente, vão transformando a vida  num grande canteiro de obras interminável, onde cada meio, cada instrumento, cada decisão é tomada com vistas a conclusão da grande obra acabada, que segundo  o filósofo A.-D. Sertillanges é o próprio homem*.

                                                      

Nota:

*Parafraseando o filósofo A.-D. Sertillanges, que diz: “Tudo no saber é esboço; a obra acabada é o homem”; em seu livro “A vida intelectual”, cap. IX, I “O trabalhador e o homem”.


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