“É preciso disparar contra a moral.”
Ao terminar a leitura desta obra provocativa, logo percebi que Nietzsche não é essa mancha escura na história da filosofia que muitos afirmam. Na verdade, a partir da análise do conteúdo deste livro, singular até certo ponto, venho compartilhar com você leitor como este pensador se tornou a antítese do senso comum, estabelecendo-se como o opositor declarado a um falso moralismo presente na realidade do convívio humano.
Por ser o epicentro de uma opinião contrária a moral estabelecida, a análise deste livro mostra-se fundamental, portanto, até necessário como um parâmetro dentro da reflexão filosófica. A partir dos apontamentos feitos pelo filósofo alemão podemos sim avançar com o progresso das discussões sobre a moralidade.
Daí o sucesso da obra, está na análise peculiar da condição humana de não questionar suas próprias convicções, imposições e princípios morais. Destacados por Nietzsche como anseios apenas aparentes, mas nunca decisivos e avessos a verdade. O filósofo chega ao ponto da negação da própria natureza, culpando assim os sentidos pelos desvios de uma razão capenga e indolente. “É preciso disparar contra a moral”; e somete depois disso a nossa moral poderá assentar-se livremente em seu trono, “como um rei vitorioso após sucessivos ataques anarquistas.” (Parte I, Máximas e flechas, 36)
A obra sintetiza em sua completude um ponto de inflexão
doloroso, sim é verdade, no entanto, nos permite em sentido oposto uma sensibilidade da razão. Diga-se ser a condição necessária
para prosseguirmos com o debate de como podemos
ser melhores? Mais humanos, justos, éticos, racionais; mais
firmes diante da verdade e da nossa natureza errática.
A problemática do livro claramente é o falso
moralismo. Exemplificado por Nietzsche na provocação que ele faz da figura intocável dos santos e dos sábios da
história humana. “[...]
Esses sábios entre os sábios de todos os tempos, seria necessário vê-los de
perto! Talvez não estivessem firmes sobre suas pernas, talvez fossem
retardatários, vacilantes, decadentes?” (Parte II, O problema de Sócrates)
Saiba que para ler um livro como este se faz necessário apartasse de juízos apressados, porque se trata de um exercício de maturidade e sensibilidade intelectual, a fim de compreender a crítica nietzschiana aos costumes, a moralidade e princípios humanos estabelecidos culturalmente e ao conjunto da sociedade; sejam em seus elementos simbólicos ou práticos; sejam eles atuais ou mesmo históricos.
0 Comentários
Deixe seu comentário, crítica ou sugestão de conteúdo