Nietzsche: argumentos e apresentações
O controverso filósofo alemão tratava diretamente da Moral enquanto disciplina filosófica, com todas as letras, ou a sua inquietação e ofensiva se deu contra o falso moralismo dos homens? Friedrich Nietzsche tratava da moralidade sempre com suspeita, assumindo a imperfeição humana refletida sobre os conceitos. Talvez, quisesse nos advertir de que o homem ou "seu moralismo", devesse ser provocado para que não se acomodasse de maneira alguma. O conceito é assim inconstante pelo fato de o caráter do ser humano também sofrer constantes mudanças ao longo da vida.
A pretensão de Nietzsche seria algo como provar às próprias virtudes (medida por nossos vícios), crenças e convicções; para que somente então depois de desmoralizadas nossas perfeições teóricas e de provocá-las a golpes de martelo, "como um rei após sucessivos ataques anarquistas, poder assentar-se firmemente em seu trono glorioso". Ele diz: "é necessário disparar contra a moral".
Nietzsche contra moral religiosa
O bode expiatório--é assim que poderíamos definir a moral cristã a partir de Nietzsche, que foi quem lhe atribuiu toda culpa do moralismo teatral, estático e imperfeito de que fez uso a sociedade ocidental ao longo da história, processo iniciado por Sócrates, segundo as palavras do próprio filósofo. Como se tudo fora do contexto religioso fosse isento de corrupção: bem como a maioria dos pensadores e suas teses, e antíteses; as inúmeras correntes de pensamentos que vão perdendo o seu "Ideal", e seu brilho, conforme os mal-intencionados usam-nas para os seus propósitos obscuros e revolucionários. O que dizer então da moralidade?
Discutir sobre as consequências da corrupção no homem, por conseguinte, na religião ou em qualquer área de que este se ocupe, é um exercício e um dever filosófico. Não tratamos da ética sem abordarmos primeiro os princípios da moralidade e suas imperfeições (sem fazer o uso das mágoas nem ressentimentos), que espelham nossas próprias imperfeições. Assim, fé e a razão deveriam coexistir: como a ética não pode existir sem a moral; como duas faces de uma mesma moeda que não se apartam nem da convivência nem da vida política. Entretanto, uma certa arrogância filosófica-histórica, insiste sempre em corromper ou desmoralizar todos os princípios que constituíram as bases da sociedade.
Nietzsche e a negação da vontade
"Ver-se obrigado a combater os instintos é a fórmula da decadência, enquanto que na vida ascendente, felicidade e instinto são idênticos." Negar o instinto é um pecado contra à natureza; pecamos antes pelos excessos, o falso moralismo, e pelos prazeres estendidos para além da razão--talvez neste ponto, tenha titubeado também Epicuro--mas nunca erramos, porque nascemos desejosos da vida. Com toda assertividade, implicou Nietzsche com a fórmula socrática: razão=virtude=felicidade; antes seria mais prudente calcularmos: razão+vontade=mediania; porque nos vale muito mais o controle dos vícios sobre os desejos e a serenidade da alma. Pois neste mundo de que virtudes pode se orgulhar quem quer que seja, para tomar de assalto a felicidade? Não seria isso uma falsidade e uma imoralidade? Seja feliz: quer dizer de certa forma, tenha prazer na vida! Mas não deixe que a vontade domine sobre a razão; nem que a razão suprima falsamente a vontade.
É um excessivo moralismo, este que machuca o instinto e que também contraria a razão: ambas partes da natureza e da anatomia plena do homem. Portanto, não há condenação para o desejo, próprio desta natureza animal, desde que o homem seja capaz de refletir sobre os impulsos da vontade. Como cada pessoa lida com esse dilema, é o que podemos considerar uma grande questão da vida humana.
Nietzsche e sua Moral opositora
Assim que terminei a leitura do livro "Crepúsculo dos ídolos", percebi o quanto a crítica do autor sobre a moralidade tem um valor incrível, enquanto aperfeiçoamento da própria cultura. Ou seja, é um efeito da Moral sobre si mesma. A oposição do filósofo representa uma espécie de antítese a realidade existente, caracterizando uma moral opositora àquela que era em seu tempo, ou é num sentido histórico, um consenso entre os homens.
A moral oposta de certa maneira pode ser considerada como um efeito racional, que se sente superior a moralidade estabelecida. O que ocorre por intermédio do teor crítico em seus fundamentos. Ela é por conta disso uma condição de análise inquieta e por vezes insatisfeita e até arrogante. Entretanto, permite uma renovação, aprovação ou reprovação dos princípios e valores estabelecidos; como regras, normas e padrões de comportamento para uma boa convivência entre todos.
Quando a razão suspeita da própria imperfeição ou limitações do juízo, ela vai gradativamente subjugando as deficiências do caráter, aperfeiçoando e, por conseguinte, melhorando esse caráter a partir do encontro com as virtudes e dilemas que permeiam a vida humana. Oportunizando com isso um debate ético e formal entre os indivíduos.
A moral oposta pode ser considerada um mal necessário se observarmos o quanto ela se mostra eficiente contra toda falácia, falsidade de aparência, puritanismo, inércia da razão ou tudo o mais que cause desvios no caráter e comportamento humano, que prejudique em todos os estados e camadas a convivência entre as pessoas.
Nota:
*Todas as citações, bem como a inspiração para o texto são das obras "Crepúsculo dos ídolos" e "Além do bem e do mal" de autoria do filósofo alemão Friedrich Nietzsche.
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